sexta-feira, julho 06, 2007

Polacos usurpam a areia marroquina há muitas décadas!

A leitura deste post induziu-me escrever o post seguinte:

A marcada erosão costeira das praias das Caxinas e de algumas praias da cidade de Vila do Conde é apontada regra geral a causas do aumento do nível médio do mar e/ou à crescente pressão urbanística sobre a frente marítima. Estes factores, regra geral, têm as 'costas demasiado largas' para explicarem muito do que vai mal ao longo da costa portuguesa.

No caso de Vila do Conde/Caxinas o maior factor dessa marcada erosão costeira é na verdade o paredão/esporão norte do porto da Póvoa de Varzim (pPV).

Ao longo de toda a costa portuguesa, ou de qualquer parte do mundo, existe erosão costeira com maior ou menor intensidade. Como factor de contrabalanço verificam-se os processos de sedimentação de areias, num processo dualístico que configura situações de maior ou menor (des)equilíbrio entre ambos, ao longo do tempo e do espaço, e que definem na prática a fronteira entre terra e mar, mais para poente ou para nascente. Na costa portuguesa a denominada “deriva litoral” ou seja a deslocação de areia ao longo da costa, junto das praias, efectua-se, na grande predominância dos casos, na costa ocidental de norte para sul (similar à deslocação do ar/vento, a nortada) e na costa meridional (Algarve) de oeste para leste.

São deslocadas areia emersas (na praia) e imersas (debaixo de água junto da costa).

A deslocação de areias emersas é motivada sobretudo pelo vento e obstaculizada pelos obstáculos naturais (ex. rochedos) e humanos (por exemplo, neste caso, o restaurante Caximar) que se lhe deparam.

No que concerne á deslocação de areia imersas a construção do paredão/esporão norte do pPV veio obstruir de modo significativo essa deslocação de areias norte/sul nesta região. Verifica-se deste modo uma sedimentação excessiva de areias junto a esse paredão a norte, e ao invés, a sul deste, um pronunciado défice.

A figura abaixo permite visualizar a marcada retenção das areias imersas (linhas cinzentas) a norte do paredão/esporão norte do pPV.

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É óbvio que esse paredão é o elemento fucral do porto da Póvoa de Varzim (pPV), protegendo-o da exposição directa do mar e suas marés e deste modo criando as condições essenciais para o seu funcionamento pleno.

O fiel da balança desta relação vantagens/desvantagens que o pPV acarreta para o segmento costeiro desta região apenas tenderá para as vantagens se a área a sul do pPV for continuamente alimentada de areia artificialmente (seria justo, como contrapartida, trazê-la do norte do pPV) ou então quando um dia essa estrutura longilitoral (o paredão) for substituída por séries de esporões de menor dimensão paralelos à costa, numa solução que logicamente implica recorrer já a sofisticada engenharia e acarreta maiores custos de implementação (mas que já é seguida em alguns países).

Poder-se-ia também na zona entre o Caximar e as duas torres a sul da Quinta do eng. carvalho (área mais sensível à erosão costeira) fazer 'recuar' a linha de costa, e já agora aproveitar para demolir, pelo menos uma dessas torres descomunais. Também implicaria demolir algumas das casas mais a poente do bairro dos pescadores, que deveriam ser ressarcidos do modo mais justo.
Claro que isto seria um 'remendo' e uma 'espécie de solução provisória' para esta zona, pois o problema fundamental do deficit entre a extracção natural de areias (erosão costeira) e sedimentação de areias mantinha-se.

Na imagem seguinte exemplifica-se o 'recuo' da linha de costa nesta área mais sensível à erosão costeira, transitando a estrada dessa marginal para nascente/montante.

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Explanação elementar do que expressei antes: a Póvoa de Varzim (PV) usurpa à brava areias à costa de Vila do Conde (VC). Contudo VC tolera tal situação pois também retira inúmeros benefícios da actividade do pPV.


Isto aliás faz-me lembrar a questão do local de nascimento de Eça de Queirós. Desde há várias décadas que não restam dúvidas que o criador de Fradique Mendes nasceu em Vila do Conde (VC) e que sua mãe é vila-condense. Contudo pelo facto de existir um fartote de grandes escritores associados a esta cidade a presença de mais um até se afigura no geral mais negativo que positiva (em paralelismo com as designadas “economias de aglomeração” onde concentração de pessoas, bens e serviços acima de um dado patamar num dado espaço acaba trazendo mais prejuízos que benefícios - prejuízo por excesso). Como tal, toleramos e até saudamos que Eça de Queirós seja formalmente poveiro de nascimento. Sim, porque doutro modo Eça apartaria muito notoriedade neste concelho, por exemplo, a José Régio e a família Reis vileira não ficaria satisfeita até que Eça fosse, à força, repatriado de novo para a Póvoa.

Apenas para complementar a minha breve exposição anterior, queria referir que a erosão costeira no litoral português, que como sabemos até é mais acentuada na costa entre Espinho e Vagos/Mira, do que propriamente nesta nossa região, para além diversos factores, antes citados (aumento do nível médio do mar, crescente pressão urbanística sobre a frente marítima, e obras de engenharia pesada como é o caso do paredão atrás focado), é influenciada também pela retenção de sedimentos nas barragens; as dragagens nas zonas estuarinas e foz; a extração de inertes nos rios (sobretudo na sua foz) e no mar; a destruição de arribas, dunas e outras formações costeiras; etc; etc

Ou seja, trata-se de um fenómeno muito complexo que implica a discussão/definição permanente de modelos de planeamento e desenvolvimento, e sobretudo modelos de sustentabilidade de índole progressista.


Ler interessante artigo relacionado

Comments:
Por muito que quisesse concordar com este post, é-me um pouco díficil!
Tenho formação em protecção costeira e não posso concordar que os "Polacos usurpam a areia marroquina há muitas décadas!"... facilmente se poderá ver, até mesmo pelas fotografias editadas, que as areias não estão a ficar acumuladas a norte do pontão (veja-se a largura da faixa das praias poveiras!), isto porque as areias que deviam vir com as correntes fluviais estão a ficar depositadas nos leitos dos rios, devido à regularização dos caudais...
 
Relativamente ao ponto das areias não estarem a ficar acumuladas a norte do esporâo discordo pois elas ficam acumuladas sobretudo na Plataforma Continental (a tal que em média vai até aos 200 metros de profundidade) da costa da Póvoa aumentando a deposição com a proximidade ao dito esporão, e não aumentado necessariamente a largura das praias da Póvoa em algumas décadas (por vezes demora séculos); e a parte de areias que se depositam na praia, não sei se já reparou que é prática de há vários (muitos) anos camiões (penso que são da Câmara M. da Povoa ou de empresas com autorização) que de lá retiram de tempos a tempos a areia em excesso.

Relativamente às areias fluviais que ficam depositadas nos leitos dos rios no meu post aludi a esse facto, como pode verificar. Agora, a carga sólida arenosa proveniente do Rio Ave nunca 'alimentou' a costa a norte do Praia Azul, pois simplesmente nunca seguem (alcançam) esse trajecto, dirigindo-se predominantemente para sul.
Essa parte da costa é 'alimentada' pelas areias que provêm de norte, parte do rio Cávado após uma longa e demorada 'viagem'. O problema é que essa alimentação é deficitário e ao invés dessa zona desloca-se areia para sul, orginando evidentes desiquilibrios
 
Não concordo que a areia que falta séja por causa do alongamento do cais do norte da barra da Povoa ,más sim do caisinho aqui da praia dos barcos das caxinas ,desde que fizeram esse cais que ligou a insua ,as correntes de norte já não existém ,portanto aí está o problema da falta de areia da meia laranja ém frente a quinta do engenheiro ,muitas toneladas de areia vém com correntes de sul encostar a praia do farol do agulhão das caxinas,isto porque já não há correntes de norte! fes-se uma praia de banhos ,más acabou-se com a praia dos barcos !...J.Pontes
 
ola, o meu nome é Paulo Arnaud, tenho larga formação em segurança e salvamento aquático, sim, sou técnico de salvamento, não um mero nadador salvador, é bem triste este tipo de projectos para avançar com 'remendos' nas praias de vila do conde, acabou de mostrar um défice de informação, o IPTM já tem conhecimento deste problema e está a pensar em como o reparar.

Quanto ao que o Sr. Jaime Pião, concordo a sua ideia e o projecto que apresentei na APMSHM vai ao encontro do seu pensamento.

Deixem-se de comentários estúpidos ou projectos fantasmas, já agora porque que não fazem uma ponte até a forcada po pessoal ir lá apanhar uns mexilhoes de vez em quando? tinha mais logica que algumas coisas que já li aí...


enfim.
 
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