quinta-feira, janeiro 04, 2007
Mar de gente nas Caxinas na despedida dos pescadores
"Foi um silêncio desolador que dominou as ruas das Caxinas, em Vila do Conde. Várias centenas de pessoas reuniram-se de uma forma expontânea para prestar a última homenagem a três dos seis homens que na passada sexta-feira morreram, em sequência do naufrágio do «Luz do Sameiro». Fernando Cartucho, de 42 anos, José Elias Viana, de 57, e Ricardo Marques, de 46, faleceram a 50 metros da costa da Nazaré e foram ontem a enterrar. Os corpos dos outros três tripulantes da embarcação ainda não foram encontrados.
Os sinos da Igreja do Nosso Senhor dos Navegantes assinalaram, às 15h, o início das cerimónias fúnebres. Da capela com o mesmo nome, a escassos metros, saíram os carros mortuários, religiosamente seguidos pelos familiares das vítimas, cuja expressão no olhar não escondia a dor da perda. Percorreu-se parte da Avenida D. António Bento Martins Júnior que, juntamente com outras artérias circundantes, esteve durante a tarde de ontem condicionada ao trânsito, até à Igreja do Nosso Senhor dos Navegantes, onde decorreu a missa.
Caxinas mostrou que está de luto, mas não esquece os homens que estão vivos e que diariamente arriscam a vida no mar. Numa manifestação de solidariedade com os familiares das vítimas, o presidente da Câmara de Vila do Conde, Mário Almeida, marcou presença no funeral. A hora, “é de dor, mas também de impotência e indignação”, observou, mostrando-se crítico quanto à actuação das equipas de salvamento. Por isso, numa altura em que o país “está particularmente sensível para esta questão, é preciso que se continue a falar nela para além destes dias”. Acreditando que as vítimas “não serão esquecidas”, o autarca socialista defendeu a existência, durante 24 horas por dia, de equipas salva-vidas, bem como meios aéreos para cobrir a extensão marítima entre Viana do Castelo e Aveiro. Aliás, Mário de Almeida adiantou mesmo que a Câmara de Vila do Conde está disponível para arranjar o terreno de aterragem. “Só é preciso o helicóptero”, advertiu.
Enquanto o assunto toma dimensões a nível nacional, a autarquia continua a prestar apoio aos familiares das vítimas, que têm recebido ajuda de assistentes sociais e psicólogas.
Reclamações chegam a Lisboa
Com a dor de quem conhece as adversidades da profissão, José Festas, presidente da Comissão para o Salvamento de Homens no Mar lamentou, mais uma vez, a tragédia que se abateu sobre Caxinas. Para alertar as autoridades para o problema, hoje mesmo desloca-se a Lisboa com o objectivo de reunir com o primeiro-ministro, com os ministros da Defesa e das Pescas e com os diferentes grupos parlamentares. Para já, garantiu, “não queremos entrar em guerra e, por isso, vou a Lisboa sozinho”. Mas, “se não me receberem, podem vir a contar com uma manifestação das pessoas de Caxinas”, avisou. José Festas vai à Capital reclamar homens nos salva-vidas durante 24h/dia e meios aéreos prontos."
Indicações via satélite da embarcação foram insuficientes
O Comando Naval do Continente recebeu um SOS da embarcação naufragada sexta-feira nas imediações da Nazaré, mas as indicações recebidas por satélite eram insuficientes para saber onde se encontrava, disse ontem à Lusa fonte da autoridade marítima. Só o processo de triangulação permite a localização exacta de uma embarcação em dificuldades, o que, no caso concreto, não foi de imediato possível, tendo em conta a orbita desfavorável de dois dos três satélites necessários à operação.
O comandante da capitania da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, Carrundo Dias, que forneceu estas explicações, testemunhou à Lusa que foi questionado pelo Comando Naval, pouco depois do naufrágio, acerca do paradeiro da embarcação “Senhora da Luz”, que estava matriculada em Vila do Conde. Só mais tarde foi possível a triangulação de satélites, o que terá atrasado as operações de socorro, admite Carrundo Dias, ainda que espera esclarecimentos mais detalhados através do inquérito pedido à Marinha pelo Ministério da Defesa.
O oficial precisou que a embarcação, que tinha sido vistoriada a 11 de Setembro, respeitava todos os procedimentos de segurança, tendo balsas, salva-vidas, coletes individuais e o aparelho que sinaliza situações críticas para um satélite. O aparelho da “Senhora da Luz” permitia a sinalização destas situações manualmente ou automaticamente. Três pescadores continuam desaparecidos, depois de outros três terem sido encontrados sem vida. O dono do barco, vários outros armadores e o pescador sobrevivente queixaram-se da demora no aparecimento de meios de salvamento eficazes e o Sindicato dos Trabalhadores de Pesca do Norte escreveu ao Procurador-Geral da República a pedir explicações sobre o sucedido."
Patrícia Gonçalves
Fonte: O Primeiro de Janeiro -3-1-007
Os sinos da Igreja do Nosso Senhor dos Navegantes assinalaram, às 15h, o início das cerimónias fúnebres. Da capela com o mesmo nome, a escassos metros, saíram os carros mortuários, religiosamente seguidos pelos familiares das vítimas, cuja expressão no olhar não escondia a dor da perda. Percorreu-se parte da Avenida D. António Bento Martins Júnior que, juntamente com outras artérias circundantes, esteve durante a tarde de ontem condicionada ao trânsito, até à Igreja do Nosso Senhor dos Navegantes, onde decorreu a missa.
Caxinas mostrou que está de luto, mas não esquece os homens que estão vivos e que diariamente arriscam a vida no mar. Numa manifestação de solidariedade com os familiares das vítimas, o presidente da Câmara de Vila do Conde, Mário Almeida, marcou presença no funeral. A hora, “é de dor, mas também de impotência e indignação”, observou, mostrando-se crítico quanto à actuação das equipas de salvamento. Por isso, numa altura em que o país “está particularmente sensível para esta questão, é preciso que se continue a falar nela para além destes dias”. Acreditando que as vítimas “não serão esquecidas”, o autarca socialista defendeu a existência, durante 24 horas por dia, de equipas salva-vidas, bem como meios aéreos para cobrir a extensão marítima entre Viana do Castelo e Aveiro. Aliás, Mário de Almeida adiantou mesmo que a Câmara de Vila do Conde está disponível para arranjar o terreno de aterragem. “Só é preciso o helicóptero”, advertiu.
Enquanto o assunto toma dimensões a nível nacional, a autarquia continua a prestar apoio aos familiares das vítimas, que têm recebido ajuda de assistentes sociais e psicólogas.
Reclamações chegam a Lisboa
Com a dor de quem conhece as adversidades da profissão, José Festas, presidente da Comissão para o Salvamento de Homens no Mar lamentou, mais uma vez, a tragédia que se abateu sobre Caxinas. Para alertar as autoridades para o problema, hoje mesmo desloca-se a Lisboa com o objectivo de reunir com o primeiro-ministro, com os ministros da Defesa e das Pescas e com os diferentes grupos parlamentares. Para já, garantiu, “não queremos entrar em guerra e, por isso, vou a Lisboa sozinho”. Mas, “se não me receberem, podem vir a contar com uma manifestação das pessoas de Caxinas”, avisou. José Festas vai à Capital reclamar homens nos salva-vidas durante 24h/dia e meios aéreos prontos."
Indicações via satélite da embarcação foram insuficientes
O Comando Naval do Continente recebeu um SOS da embarcação naufragada sexta-feira nas imediações da Nazaré, mas as indicações recebidas por satélite eram insuficientes para saber onde se encontrava, disse ontem à Lusa fonte da autoridade marítima. Só o processo de triangulação permite a localização exacta de uma embarcação em dificuldades, o que, no caso concreto, não foi de imediato possível, tendo em conta a orbita desfavorável de dois dos três satélites necessários à operação.
O comandante da capitania da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, Carrundo Dias, que forneceu estas explicações, testemunhou à Lusa que foi questionado pelo Comando Naval, pouco depois do naufrágio, acerca do paradeiro da embarcação “Senhora da Luz”, que estava matriculada em Vila do Conde. Só mais tarde foi possível a triangulação de satélites, o que terá atrasado as operações de socorro, admite Carrundo Dias, ainda que espera esclarecimentos mais detalhados através do inquérito pedido à Marinha pelo Ministério da Defesa.
O oficial precisou que a embarcação, que tinha sido vistoriada a 11 de Setembro, respeitava todos os procedimentos de segurança, tendo balsas, salva-vidas, coletes individuais e o aparelho que sinaliza situações críticas para um satélite. O aparelho da “Senhora da Luz” permitia a sinalização destas situações manualmente ou automaticamente. Três pescadores continuam desaparecidos, depois de outros três terem sido encontrados sem vida. O dono do barco, vários outros armadores e o pescador sobrevivente queixaram-se da demora no aparecimento de meios de salvamento eficazes e o Sindicato dos Trabalhadores de Pesca do Norte escreveu ao Procurador-Geral da República a pedir explicações sobre o sucedido."
Patrícia Gonçalves
Fonte: O Primeiro de Janeiro -3-1-007