sábado, dezembro 30, 2006
Tragédia abate-se novamente sobre os Caxineiros: três Pescadores mortos e três ainda desaparecidos no naufrágio do barco “Luz do Sameiro"
Ontem de manhã o barco das Caxinas “Luz do Sameiro” colidiu com um banco de areia, a cerca de 50
O naufrágio do barco ocorreu às 6h42 e o centro de coordenação de busca e salvamento de Lisboa foi avisado pelo próprio barco por um sinal emitido via satélite quando ocorrem anomalias deste tipo. Apenas às 7h30 o satélite indicou a posição do barco. O barco naufragado foi avistado pela primeira vez, no local, passavam poucos minutos das 8 horas por José Saldanha, um pescador da Nazaré, que viu cinco homens agarrados ao barco, a pedir ajuda. Como a profundidade onde naufragou era de apenas alguns metros parte do barco encontrava-se encalhado, estando uma parte junto à superfície.
José Saldanha correu a casa do concessionário da praia da Légua para dar o alerta. O pescador da Nazaré, juntamente com o concessionário, Abílio Cardeira, e dois nadadores-salvadores, Luís Cardeira e Hugo Henriques, que prestam serviço na praia durante o Verão, chegaram à praia por volta das 8h30 e viram os quatro pescadores agarrados à casa do leme, gritando por socorro, e um outro pendurado pelos pés (e que, entretanto, caiu ao mar). Como a temperatura da água era muito fria estes vestiram os seus fatos de mergulho e as barbatanas e tentaram socorrer os pescadores. Contudo, o facto de na altura estar maré alta, com muita ondulação, de muitas redes estarem a envolver o barco (e de enrolarem nas suas pernas) e de existir muito gasóleo derramado (que lhes queimava os olhos e boca) não conseguiram resgatar para terra os pescadores. Ainda fizeram duas tentativas não foi possível.
Era 8h30 quando o telemóvel do patrão do salva-vidas do Instituto de Socorros a Náufragos da Nazaré tocou a avisá-lo do naufrágio. “Estava no café, em S. Martinho do Porto, onde vivo. Avisei o marinheiro, que mora mais perto, para ir tratando do barco, meti-me na mota e parti”, contou o patrão António. A viagem durou 15 minutos. Antes das 9h já o salva-vidas rumava ao encontro do ‘Luz do Sameiro’. Ás 9h15 o salva-vidas entrou no mar. Só 2 horas e meia depois do sinal de alarme inicial, às 18h42. Ma o facto de a embarcação estar no meio da rebentação e rodeada de redes de pesca não o deixam aproximar-se.
Logo se constatou que apenas com ajuda de um helicóptero se poderia resgatar os pescadores para terra, os quais foi solicitado. Mas o helicóptero da Força Aérea tardou demais a chegar. Perante a angústia das pessoas e das equipas de socorro (Bombeiros Voluntário da Nazaré, INEM), que entretanto chegaram (depois de tomarem ocorrência do acidente), que assistiam na praia impotentes para evitar esta tragédia. Os pescadores Aagarrados à parte superior da embarcação, que era constantemente fustigada pelas ondas fortes, gritaram por socorro até perderem as forças. Os seus gritos ouviam-se na praia. Os pescadores foram ficando sem as forças que os mantinha agarrados ao barco e acabaram por cair ao mar
"Foi horrível foram caindo, um por um. Ficou apenas um", contou José Saldanha.
Quando o helicóptero da Força Aérea, sediado no Montijo, chegou, cerca das 9h55 já só o cozinheiro ucraniano se mantinha agarrado ao barco. O aparelho apenas descolou da Base Aérea do Montijo, 45 minutos depois de ter sido pedido. Com recurso a um guincho, o único sobrevivente do naufrágio. Vasyl Hurym, de 46 anos, cozinheiro da embarcação,de nacionalidade ucraniana foi resgatado e foi transportado ao Hospital de Leiria. Segundo fonte hospitalar, não apresentava qualquer ferimento, pelo que terá tido alta durante a noite de ontem. O tripulante não sabia os motivos do acidente e disse apenas que estava a dormir quando se apercebeu da situação.
Entretanto prosseguiram as tentativas de resgatar os pescadores naufragados. Para o local do acidente foram chamados os familiares dos tripulantes do barco e o armador, das Caxinas. Os familiares foram chegando à praia a partir de cerca das 10h30.
Cerca das 1oh15 foi encontrado o corpo Fernando Cartuxo, na praia da Légua. A Força Aérea também destacou para o local 2 aeronave, Allouette3, tendo uma delas resgatado um cadáver do convés da embarcação: José Elias, cerca das 15h09. Um terceiro corpo (Ricardo Marques) foi encontrado na praia do Vale Furado, situada a cerca de 3,5 quilómetros a norte do local do naufrágio.
O corpo de José Elias permaneceu no areal durante alguns minutos, sem qualquer acompanhamento das equipas de socorro. A situação provocou a indignação de algumas pessoas concentradas na praia, muitas das quais familiares das vítimas, que criticaram os bombeiros por não terem coberto de imediato o corpo e o levado para a morgue.
O mestre do barco era Inácio José Ribeiro Maio, pai de três filhos, e filho do proprietário do barco e entre as vítimas já resgatadas estão também identificados José Elias Viana e Fernando Craveiro Cartuxo. Um dos desaparecidos é João Cartuxo, pai de duas filhas, e irmão do Fernando. José Viana era cunhado de Ricardo Marques. Todos eram casados, com filhos.
As equipas de salvamento indicaram que não encontraram mais vítimas a bordo. As autoridades admitiram que nas redes ou no convés possam ser encontrados corpos. Em situações de afogamento, os corpos costumam dar à costa no prazo de seis horas, ou então só 48 horas depois As equipas de salvamento realizaram buscas na zona a norte do local do acidente.
Ao final do dia de ontem, continuavam desaparecidos os corpos de três pescadores. As buscas, interrompidas cerca das 19h30, pela falta de visibilidade, são retomadas hoje. As esperanças de encontrarem com vida os três pescadores que se mantêm desaparecidos são agora muito escassas.
As causas que levaram o barco a colidir com o banco de areia podem ser várias: uma avaria no motor (contudo o barco era novo), as redes podem ter se pegado na hélice, o vigia ter adormecido, as ondas na zona eram latas (mais 2,5 metros), etc Pelo depoimento do cidadão ucraniano depreende-se que parte da tripulação poderia estar a dormir na altura do acidente. Nenhum dos tripulantes levava colete e o salva-vidas não chegou sequer a ser accionado.
A embarcação apesar de ser de um armador de Vila do Conde, normalmente estava fundeada no Porto de Abrigo da Nazaré, de onde terá saído por volta das 3h de sexta-feira, para regresar ao 12h. Depois os tripulantes iam juntar-se às famílias para preparar a festa da Passagem de Ano, pois só regressariam ao mar na terça-feira.
O “Luz do Sameiro”, com cerca de 18 metros de cumprimento tem uma tripulação registada de 10 pessoas, mas nesta viagem só seguiam sete pescadores, entre os 40 e os 50 anos. Um deles, João Correia Gabina, estava de baixa médica. O mestre da embarcação tinha muita experiência no mar, era bom navegador e o barco estava bem equipado, com material actual e adequado à navegação.
Recorde-se que há dois anos, ao largo de Aveiro, com a embarcação Salgueirinha, em que morreram seis pescadores, todos das Caxinas.
Artigo escrito com base em diversas informações, sobretudo do Jornal de Notícias (edição de 30-12-006)