sábado, dezembro 30, 2006

Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte quer que seja apurada a responsabilidade da morosidade das operações de salvamento

"As várias pessoas presentes na praia criticam a demora na chegada do helicóptero da força aérea ao local. «Duas horas é muito tempo, se eles viessem mais cedo, pelo menos quatro pescadores teriam sido salvos», disse Hugo Henriques. Opinião partilhada pelos nadadores e pelo concessionário da praia que tentaram o salvamento O comandante da Capitania da Nazaré, José Miguel Neto, refuta as críticas, afirmando que o helicóptero foi avisado às 8h45 e às 10h estava a retirar o tripulante ucraniano ainda com vida, pelo que o tempo gasto é considerado normal.

Fonte do Estado-Maior da FA explicou que, depois de efectuado o pedido, a tripulação tem 40 minutos para pôr a aeronave a voar. É o tempo necessário à preparação da tripulação (constituída por quatro pessoas) e à verificação de todos os sistemas do helicóptero. Esta situação só é alterada se a aeronave tiver acabado de aterrar, mas mesmo assim é sempre necessário fazer uma verificação mínima. Como alternativa há um outro helicóptero e uma tripulação em reserva - meios distribuídos pelas bases aéreas do Montijo, Ovar, Lajes e Porto Santo -, com uma prontidão de duas horas, que, no entanto, pode ser reduzida em situações em que, por exemplo, haja um pré-aviso de mau tempo, com empenhamento de mais meios.

Depois disso, a aeronave precisou de mais 30 a 40 minutos para fazer o trajecto até à praia da Légua.

O comandante da Capitania assegurou que "foi feito o possível para efectuar o salvamento, sem comprometer a segurança das equipas de socorro". É que o mar revolto, sublinhou, não permitiu, durante a manhã, a intervenção do salva-vidas do Instituto de Socorros a Náufragos, nem de mergulhadores.

Apesar deste esclarecimento, o Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte escreveu, ontem, ao procurador-geral da República e ao Governo, pedindo que seja apurada a responsabilidade da morosidade que considera ter existido no socorro aos náufragos da embarcação. Até porque os Bombeiros chegaram ao local cercadas 8h45 e só nessa altura o helicóptero foi avisado.

"Podiam ter sido evitadas algumas mortes na tragédia da praia da Légua. Esta é a convicção do Sindicato dos Trabalhadores das Administrações e Portos Portugueses, segundo o qual é difícil garantir um salvamento eficaz com “embarcações obsoletas”. “Têm 20 anos. São lentas (a velocidade é de oito nós – 16 km/h), estão velhas e são poucas. Com salva-vidas modernos, de alto-mar, a resposta seria outra, estávamos lá em dez minutos”, disse uma fonte do sindicato. A falta de pessoal, que cumpre horário de expediente (das 09h00 às 17h00) é outra das falhas apontadas. “A tripulação de um salva-vidas devia estar ao serviço permanentemente. Se ocorrer uma situação de emergência fora do horário é preciso estar a contactá-la por telefone. Alguns moram longe e demoram tempo a chegar, além de que são poucos. O salva-vidas da Nazaré só tem três tripulantes”, revelou."

Manuel Gavina Maio era a imagem do desespero. O barco, do qual era proprietário, era comandado pelo seu filho Inácio Ribeiro Maio, de 42 anos e pai de três filhos. E o armador não escondia a revolta, por saber que dos quatro homens que conseguiram permanecer algum tempo agarrados à casa do leme, apenas um sobreviveu. "Deixaram-nos morrer", gritava, com as lágrimas a correr pela face. Assim que soube da notícia, pouco depois das 8 horas, fez-se à estrada com a mulher e o filho mais novo. "Nunca pensei que fosse possível acontecer uma coisa destas", admitiu. Os restantes tripulantes, disse, eram também pessoas experientes. "A maior parte estava a trabalhar connosco desde que comprei este barco, há seis anos", explicou, mostrando-se céptico quanto à possibilidade da embarcação ter tido algum problema. "Era praticamente nova", sublinhou.

Cerca das 16 horas chegaram à praia familiares do Fernando, de 43 anos, cujo corpo já tinha sido resgatado e a mulher do João, ainda desaparecido. Mal se acercaram da beira-mar e dos homens dos meios de salvamento, as lágrimas e os gritos tornaram-se sinais inequívocos de uma dor profunda."

Fontes:
Jornal de Notícias - 30-12-006
Correio da Manhã - 30-12-006


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